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blogue atlântico

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29
Jun08

Livros "Atlântico" VI, a discórdia atlântica

Henrique Raposo

http://www.westminsterbookshop.co.uk/images/475/0415950511.jpg

 

Livro do mês, Atlântico n.º11 (Fevereiro de 2006)

 

 

Os americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus; a América vive num mundo de Poder e a Europa vive num paraíso pós-moderno. Em traços largos, é esta a célebre tese de Robert Kagan; uma tese que entrou no ouvido e nos hábitos da imprensa. Kagan não foi inocente: revestiu a sua tese com evidentes capacidades ao nível do sound byte.

 

Tod Lindberg (editor da Policy Review) reúne neste livro um conjunto de artigos sobre as relações transatlânticas, da autoria de pensadores americanos e europeus. Objectivo? Aperfeiçoar a tese de Kagan; oferecer-lhe maior solidez estratégica/teórica e retirar-lhe um pouco da retórica destinada a ecoar no ouvido da comunicação social. Do conjunto de artigos, destacamos “Imperial Loose Talk” (Gilles Andréani), “The End of Atlanticism” (Ivo Daalder), “American Endurance” (Walter Russell Mead).

 

Gilles Andréani critica o constante uso da ideia de “Império Americano”. No século XXI, a utilização do conceito “Império” é, diz-nos o diplomata francês, um anacronismo. Dada a complexa realidade estratégica da política mundial de hoje, a América não pode ser considerada um Império. [...]  ideia de “América imperial” é um mito que nasce dos medos desta nossa Europa. Na Ásia, não se fala em Império Americano. O Império Americano é uma invenção destinada a abastecer algumas concepções ideológicas europeias. Por exemplo, a ortodoxia do super-estado europeu gosta de conceber a União Europeia como uma espécie de protecção social contra a globalização selvagem lançada pelo, claro, Império Americano. [...] A Europa já não é o centro do Mundo, mas os europeus ainda não têm o estômago ideológico e histórico para conceber tal coisa. Preferem fugir à realidade (o mundo já não ouve a Europa) através de um escape fácil: o mito do Império Americano.

 

Ivo Daalder declara o “fim do Atlantismo”. Não se trata de uma declaração ideológica, mas de uma constatação estratégica. Durante a Guerra-Fria, a política externa americana esteve centrada no Atlântico. A Europa foi o palco, por excelência, do braço de ferro entre EUA e URSS. Com o desaparecimento da URSS, esta centralidade estratégica da Europa e do Atlântico desapareceu. Neste momento, os americanos deslocam o seu centro de gravidade estratégico para o Pacífico. Acrescentamos: durante a Guerra-Fria, a Aliança Atlântica foi uma ‘imposição’ estratégica. Não havia escolha. Hoje, a Aliança depende da ‘vontade’ ideológica. Por outro lado, o Pacífico sempre foi o palco de eleição da América. Ao contrário do que reza a lenda, a América nunca foi isolacionista. Até à II Guerra Mundial, Washington secundarizou o Atlântico – dominado pelas potências europeias  –, mas apostou em força na conquista do Pacífico e na construção de uma esfera de influência em todo o hemisfério americano. Portanto, a centralidade do Pacífico e a secundarização do Atlântico não são novidades na estratégia americana.

 

Walter Russell Mead critica um cliché europeu: a ideia de que os europeus possuem o “manto de legitimidade” da política internacional. Washington, aos olhos dos europeus, deve actuar no mundo a coberto deste manto. Por outras palavras, os americanos têm de pensar como europeus e seguir uma política externa ditada pelas ideologias europeias. Mead recorda uma evidência: a Europa não é senhora da moral mundial e não garante um acréscimo de legitimidade à acção americana, sobretudo na região asiática. É um pouco difícil aceitar, mas a verdade é que os asiáticos concebem o século XXI como o século do Pacífico. E não andam longe da verdade. Se a segunda metade do século XX ficou marcada pelas relações transatlânticas, a primeira metade do século XXI ameaça transformar-se na época da hegemonia trans-pacífica.

 

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