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blogue atlântico

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31
Jul07

A estátua e uma martelada

Henrique Burnay
Partindo do meu texto na Atlântico deste mês (comprai a revista), onde, a propósito de uma estátua que foi erguida em Washington às vítimas do comunismo, tento dizer que "os europeus de Bruxelas" não ergueriam uma estátua dessas e que isso - a diferente percepção da realidade, das ameaças e das memórias, é uma enorme dificuldade para a existência de uma política externa comum, o Rebel Rebel diz que: "O problema, caro HB, não reside em os europeus não se entenderem. O problema está na eterna perspectiva norte-americana em dividir o mundo entre “bons” e “maus”. O problema está na rapidez com que os norte-americanos, partindo da visão maniqueísta que têm do mundo, erguerem estátuas. E também as derrubarem."

Más compreensões à parte, e o Rebel Rebel não percebe que eu digo exactamente que em Varsóvia ou em Talin essa estátua poderia ser erguida, o que me importa mais é o costume. Há, entre alguns europeus, a sincera convicção de que os Americanos são o mal. Mesmo, ou sobretudo, entre os que acusam os americanos de serem maniqueístas e de dividirem o mundo em bons e maus (manifestamente por verem mais filmes americanos do que livros sobre a política externa americana).

O que me interessa é que uma parte da Europa, e uma grande parte da "parte esquerda da Europa" não se conforma com a vitória, e sobretudo a derrota, na Guerra Fria, e recusa as memórias da "ex-Europa de Leste" porquanto elas provam esse resultado. Os americanos não são "bons"; é o Ocidente e o nosso estilo de vida, as nossas democracias imperfeitas, as nossas relações internacionais carregadas de contradições, as nossas sociedades defeituosas que são melhores, merecedoras de defesa. E que nos lembremos que já ganhámos uma guerra, em que também tinha adversários do lado de cá.

O nome do blogger e do blog faz-me duvidar de tudo o resto (este aviso tinha de ser feito), mas há aqui alguma coisa que interessa (e não é Zappa). A propósito, o Rebel não compreendeu que é essa "maravilha da diversidade" que torna a Europa a uma só voz difícil, e que é essa contradição que interessa pensar.
31
Jul07

Prioridades

Bernardo Pires de Lima

Recentemente, em conversa com Dana Allin, editor da enorme Survival, ficou para mim mais que evidente o desenho das relações internacionais contemporâneas. O quadro está para ficar, meus amigos. Allin reconheceu uma certa “ignorância” nos círculos políticos e académicos norte-americanos sobre a “Europa”. Quando falamos de “Europa”, diz-me Allin, “falamos de uma concepção algo abstracta e que temos dificuldades em reconhecer”. A UE é, para Washington, um parceiro económico. O parceiro político continua a ser o Estado soberano, os diversos que compõem a União.


Esta visão realista do mundo choca com a sensibilidade de muitos “europeístas”. A realidade é dura, por vezes: muitos gostavam de ser mais importantes no mundo do que são, de voltar às glórias do passado, um complexo pós-imperial que não mata mas mói.


Só que o mundo é bem mais complexo do que estas birras europeias. O mundo, tal como os EUA o querem moldar – legitimamente, acrescente-se – é multipolar. Formado por potências regionais aliadas da América. Ao contrário da intelligensia indígena, a partilha de poder no sistema foi a grande marca dos EUA desde 1945 (ONU, NATO, FMI, Banco Mundial, OMC, UE). Por outras palavras, nunca tanto poder concentrado numa só potência deu origem a tantas organizações internacionais, a tanta repartição de poder. Não serão as organizações perfeitas, mas são as que deram a grande parte do mundo períodos de maior estabilidade.


Ora, este concerto global de potências aliadas (não confundir com “amigas”), traçado após o 11 de Setembro, confronta a UE com a sua génese: um conjunto de Estados soberanos que, por vontade própria, decidiram ir partilhando aspectos da sua soberania. Repito: um conjunto de Estados soberanos.


Matar o Estado soberano é, simultaneamente, acabar com a União e remeter para um canto a relevância dos europeus no concerto de potências (Estados soberanos) global que Washington tem vindo a promover.


Eu sei que a liderança do PSD e a crise no CDS, o caso Charrua e as crianças contratadas como figurantes são demasiado importantes para perdermos tempo com estes assuntos. Mas eu já há muito que tracei as minhas prioridades.

31
Jul07

Junkie das fotocópias

Henrique Raposo
http://www.fotoscomhistoria.canalhistoria.com/photo_images/sp/1643_photo.jpg

Prosa antiga, publicada na primeira Atlântico do Paulo Pinto Mascarenhas, a n.11, Fevereiro 2006. Porquê relembrar agora? Porque me apetece, e porque tenho inveja desta gente que tem férias de 4 meses, ou assim.

Junkie da fotocópia
À pergunta “Qual é o negócio que rende?”, respondo sempre “Abre já uma banca de fotocópias”. Portugal deve ser o único país do mundo que tem na fotocópia um dos caminhos certos para a fortuna. Um fenómeno do capitalismo moderno. E qual é a causa deste fenómeno? Toda a gente sabe: o aluno universitário português, o ‘junkie’ da fotocópia.  Funda-se uma universidade; no imediato, com o desembaraço da esperteza, começa a nascer uma matilha de bancas, lojas ou quiosques de fotocópias em redor da dita universidade. Um cerco. Total e absoluto. E eis a mensagem dos sitiantes: se queres ser universitário, tens de ter cartão de fotocópias. [...] estas bancas são como o ácaro em cima da alcatifa [abraço para o MEC, o gajo que melhor escreveu sobre alcatifas, esse fenómeno tão português dos anos 80]. Quem quer tirar um curso tem de estar preparado para chafurdar no pó desta alcatifa empoeirada que é a Universidade portuguesa.
E sabem qual é o resultado? Quem acaba a licenciatura fica com alergia à leitura. Para o resto da vida. É natural: afinal são quatro ou cinco anos a ler pedaços dispersos de livros. Nacos de prosa mortos. Infectos no cheiro, feios no aspecto. "É favor encadernar isto, sff". Fica tudo preso naquelas argolas idiotas que parecem brincos de uma qualquer tribo africana.
Livros? Nem vê-los. Parece que são caros. Para quê um livro quando se pode ter umas fotocópias enroladas num cordel ou presas por um elástico? No final do curso, percebe-se que o aluno português não criou uma biblioteca. Criou, isso sim, um Frankenstein de papel amarelado; um monstro disforme, um puzzle de milhares de páginas mortas armazenadas em caixotes de papelão. E no dia em que recebe o canudo, o aluno atira esses caixotes para a arrecadação. Aquilo que deveria ser motivo de orgulho e satisfação representa apenas náusea e esquecimento. A Leitura, o simples acto de Ler fica, assim, fechado a sete chaves, junto das batatas, das cebolas, dos sapatos velhos da mãe e das garrafas de vinho do pai. Mas a culpa não é dos ácaros. A culpa, na verdade, é de quem não limpa a alcatifa. São os próprios professores que entregam nas bancas os pedaços de livros a fotocopiar. Pior: há lojas de fotocópias dentro das universidades. Não há livrarias, mas há lojas de fotocópias. Lojas com pompa comercial e gente com bata de farmacêutico.
[...] muitas vezes, as fotocópias já vêm sublinhadas e anotadas pelo professor. É o professor que lê pelo aluno. 'Tadinho. Paternalismo? Não. É preciso subir mais um degrau. Humilhação? Certo. A fotocópia é um regurgitar intelectual. A turma é reduzida a um ninho de crias, a um amontoado de passarinhos, piando. E neste ninho, como em todos os ninhos, todos fazem a mesma coisa. Ninguém procura nada diferente. Não se pergunta. Não se pensa. Fotocopia-se a Verdade já digerida por outrem. Somente.
Quem sai desse ninho com os neurónios ainda intactos fica com um sonho para o resto da vida: queimar todas as fotocópias, mesmo todas, numa pira homérica, num auto-de-fé inquisitorial. Que tal? Estão interessados? Seríamos presos como pirómanos, mas valeria a pena. E a cinza não tem ácaro.
30
Jul07

Meta

Henrique Raposo

É engraçado, sim senhora.  Tal como  Kill Bill, e os demais.  E engraçado é a palavra.  Porque o meta-cinema só pode ser engraçado. Não chega a ser grande. Tarantino poderá ser mais qualquer coisa quando decidir ser um realizador. Já chega desta - longa - fase de meta-realizador. Grow up, motherfucker.
30
Jul07

Nick Cohen na Atlântico

Bernardo Pires de Lima
"O momento principal foram os ataques às Torres Gémeas e, em seguida, o sentimento da falência da esquerda europeia, que deixou de apoiar os socialistas iraquianos ou refugiados iraquianos e passou, pelo contrário, a defender o líder autoritário. Porque razão a BBC não entrevistava os refugiados iraquianos fugidos de Saddam?"

Nick Cohen, homem de esquerda. Mas não da esquerda-beco-sem-saída. A não perder este mês na Atlântico.
30
Jul07

Nick Cohen na Atlântico

Bernardo Pires de Lima
"A esquerda radical, ao não criticar o radicalismo islâmico, está a mostrar que faliu historicamente e está, na verdade, a comprovar o fim da própria ideologia. É um sinal de exaustão e de morte política".

Atlântico 29. Já nas bancas.

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