O título tem a sua quota-parte de demagogia e de «espectacularidade»:
”Mar volta a estar flat no Atlântico”. A conclusão é de Daniel Oliveira e baseia-se em dois factos: o Tiago Mendes saiu do blogue da Atlântico e o André Azevedo Alves (a nova
bête noir da esquerda
chic e da direita dita «esclarecida») fará parte do Conselho Executivo da revista.
Em primeiro lugar, o erro: o AAA já fazia parte do Conselho Editorial da revista.
Em segundo lugar, o Daniel acha que o Tiago Mendes era o agitador das águas, a consciência liberal do blogue, o representante da direita livre e desempedernida com quem a esquerda igualmente livre e liberal podia debater de forma construtiva e estimulante, o garante, para os que aqui se passeavam, de não esbarrarem invariavelmente com opiniões «fascizóides», antiquadas e preconceituosas, saídas de seres maniqueístas cujo pendor hiper-religioso os empurra para a caverna de todos os obscurantismos. Um herói, portanto. E agora, pelo vistos, um mártir.
Longe de mim fazer a apologia do André Azevedo Alves ou a condenação do Tiago Mendes. Nem o André Azevedo Alves é o Diabo e o reaccionário que agora o pretendem pintar, nem o Tiago Mendes é o senhor da suprema benignidade e da etérea tolerância. Dito de outra forma, ninguém é perfeito. No final, os actos ficam com quem os pratica e as opiniões são de quem as profere. A revista Atlântico não tem uma voz uníssona nem um corpo homogéneo de articulistas manga-de-alpaca, dirigidos por um comité e ao serviço de uma ideologia. A liberdade aqui é total. Os limites são ditados pelo bom senso – conceito difuso e subjectivo – e pela educação - bem mais objectiva. Por aqui nunca encontrarão patrulhamentos censórios ou directrizes da cúpula.
É por isso que a «boca» do Daniel Oliveira é injusta e tortuosa. Basta carregar no link “Os Atlânticos”, no topo do blogue, para perceber que este não é um blogue aparelhista, amorfo, dirigido por um bando de meninos acéfalos cuja moleza insípida os entrega ao pensamento único.
Não é a primeira vez que o Daniel Oliveira faz generalizações deste calibre e enfia toda a gente no mesmo saco. Nem será a última. Há uns
posts atrás, disse que eu me referia às pessoas de que discordo como «canalhas». A acusação seria cómica não fosse injusta e ofensiva. Nunca o fiz. Lembro-me de apelidar os militares que torturaram presos de guerra em Abu Ghraib de «canalhas». Não me recordo – mas estou certo de que o faro inquisidor do Daniel tratará de me contradizer e de me encomendar ao Inferno – de outros casos concretos. No dia em que julgasse as pessoas de que discordo como «canalhas» fechava o boteco e entregava-me às autoridades.
Há canalhas? Há canalhas. Felizmente, conheço poucos. Em relação a estes, não tenho grandes problemas em carimbar-lhes o epíteto. Lamento desapontar o Daniel, mas nunca o considerei um canalha. De resto, raramente utilizo o termo. Costumo colocá-lo ao serviço da (auto) ironia e do sarcasmo. Não perceber a diferença é estúpido. E o Daniel Oliveira não é estúpido. Nem parvo. É distraído, malandreco, propenso a deturpações e a imprecisões. Como todos nós, aliás. Uns mais que outros, é verdade. Pena é que ele não se retrate mais amiúde e não reconheça, também, os seus preconceitos e a falência da sua suposta superioridade moral.
O Atântlico está
flat? Paciência Daniel.