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blogue atlântico

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16
Mai08

No país das maravilhas

Carlos do Carmo Carapinha

Esta notícia dá conta que o Parlamento aprovou ”com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS, o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico”. Manuel Alegre (PS), dois deputados do PP e Luísa Mesquita votaram contra.

Em nome de um vago e duvidoso interesse nacional, os dois Blocos (o Central e o de Esquerda) aprovaram um acordo que me envergonha. Não tanto pelas razões ortográficas (a que não sou insensível), mas acima de tudo por se tratar de um acordo absolutamente cretino e falacioso. Este acordo não vai adiantar um grama de utilidade à compreensão do português falado e escrito no Brasil. Este acordo vai lançar a confusão entre a população estudantil e as respectivas famílias (a minha filha de 12 anos vai sentir na pele a dicotomia tão ridiculamente explicada e irresponsavelmente acolhida por Sua Eminência o Cardeal coimbrão Carlos Reis, segundo o qual cada um escreverá como lhe aprouver porque, é verdade, o Acordo assim o permite). Este acordo vai criar uma sensação de instabilidade e desnorte pedagógico na classe docente.

Até o putativo contributo do Acordo para a cultura e para a economia dos bens culturais só pode ser levado a sério por duas espécies de obtusos: os que não enxergam a que nível se encontram as diferenças que pesam para o hipotético «fosso» linguístico entre Portugal e o Brasil (a sintaxe, o vocabulário, as expressões idiomáticas, etc.); os que, tendo interesses económicos no âmbito dos livros e afins, insistem na expectativa desesperada de uma pífia «abertura» que lhes permita vender mais uns obscuros opúsculos da Sra. Dona Lídia Jorge ou do sempre jovem Peixoto.

Há, finalmente, uma espécie de apoiantes do acordo cuja argumentação não se fundamenta nas supostas virtudes do mesmo, mas tão só no facto de vislumbrarem nos argumentos contrários e nas pessoas que os personificam, laivos bacocos de nacionalismo e neocolonialismo ou, pior, o pútrido perfume de tempos «orgulhosamente sós». Há gente para quem a política e a ideologia são tudo. Pena é que não vejam para além disso.

PS: Dispenso-me de comentar o argumento da «união dos povos» por razões óbvias (lirismos não, obrigado).

(publicado também aqui)

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