Bush não é Lincoln e 2001 não é 1861
Miguel, ainda bem que falas em Lincoln. Porque um dos erros dos defensores do "estado de emergência" actual (John Yoo à cabeça) é dizer que Bush está apenas a utilizar algo já usado na história americana: Lincoln e Roosevelt, por exemplo. O problema é que não se pode comparar a actual "guerra ao terror" (conceito que recuso, aliás) com uma guerra civil que colocava em causa a União e a Constituição (Lincoln) ou com uma guerra total contra duas potências continentais, Japão e Alemanha (Roosevelt). O terrorismo não é uma ameaça à soberania, não representa uma ameaça de invasão ou derrota, não é um factor de guerra civil. O "estado de emergência" não pode ser convocado com tanta facilidade. O que é um mal menor em Lincoln e Roosevelt não é, de todo, aceitável em Bush.
Além do perigo ser muito menor (consta que Bin Laden não têm divisões panzers ou porta-aviões), existe outro problema: a questão da duração. A duração do "estado de emergência" de Lincoln e Roosevelt era claro: era até a guerra acabar. Sabia-se quando é que a guerra acabava: 41-45, 61-65. Mas quando é que acaba a dita "guerra ao terror"? Não acaba, porque não existe. A "guerra ao terror" é um slogan interno sem aplicabilidade internacional. É isto que a última decisão do Supremo vem por em causa: dada a "duração" incerta da "guerra ao terror", os presos de Guantanamo não podem ser presos por tempo "indefinido", tal como sucedeu nas guerras do passado.
