Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

blogue atlântico

blogue atlântico

28
Jul08

Livros "Atlântico" 41, ARON

Henrique Raposo

 

The image http://www.guerraepaz.net/usr/img/0.80662500%201181570703_MemoriasAron.jpg cannot be displayed, because it contains errors.

 

Atlântico 27 (Junho 2007)

 

Isto não uma crítica. É uma celebração. Consta que a primeira palavra que balbuciei foi “Aron” e não “Gu-gu da-da”. Não esperem, portanto, grande contenção nesta prosa. Raymond Aron (1905-1983) foi a maior figura intelectual do século XX e, como diria Borges, encontrou o destino dos grandes: transformou-se num adjectivo, aroniano. Um adjectivo que sintetiza uma atmosfera intelectual própria, uma maneira de ver o mundo.

Nestas memórias, Aron oferece-nos uma visita guiada ao seu longo percurso intelectual. O autor recorda os seus livros e polémicas, desde o caos dos anos 30 até às incertezas dos anos 80. A Guerra-Fria («paz impossível, guerra improvável») tem óbvio destaque. Esta foi uma época marcada por uma batalha de ideias na qual «a mente ou o coração dos homens estava em jogo» (p. 206). Aron foi o navio almirante dessa batalha; defendeu os EUA e a NATO contra as hordas de amantes da URSS lideradas por Sartre. E Aron faz questão de recordar algo que já estava fora de moda nos anos 80: sem a NATO e sem a integração da Alemanha na NATO, a França nunca teria participado na construção europeia a par de uma Alemanha novamente soberana e armada. Sem o «egoísmo esclarecido» (p. 549) dos americanos, não teríamos a Europa de hoje («o plano Marshall obrigara os europeus, alemães incluídos, a trabalhar em comum» (p. 236).

Mas, hoje, mais do que a História, o que interessa recuperar é o tal espírito aroniano. E o que é ser-se aroniano? É praticar o cepticismo e, por isso, recusar o papel de intérprete «da consciência universal» (p. 536). É lutar pelo pluralismo («o Ocidente só vive e sobrevive pelo pluralismo», p. 632). É proteger o valor da humildade perante os clássicos («um ano de familiaridade com a obra de Kant curou-me, de uma vez por todas, a vaidade», p. 23). É ser capaz de fazer a ponte entre a teoria e a realidade, entre o jornalismo e a academia. Aron, jornalista e académico, criticava quem vivia apenas no «universo de algodão» académico (p. 191). É desconfiar dos Príncipes (p. 521). É recusar o quentinho ideológico e sair para o frio analítico, ou seja, é ver o mundo tal como é, e não como deveria ser. É criticar revolucionários («pode-se ser marxista-leninista e inteligente, mas nesse caso, não se é honesto», p.629) e reaccionários («nacionalistas ou reaccionários pertencem a um universo no qual eu nunca poderia respirar», p. 588). É ter o gostinho de ouvir os adversários confessar que é melhor errar com Sartre do que ter razão com Aron. É, enfim, recusar «crenças milenaristas ou racionalizações conceptuais» e preferir «a experiência, o saber e a modéstia» (p. 626).

 

Links

Outros Mares

Outras Ondas

Arquivo

  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2008
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2007
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D