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blogue atlântico

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02
Ago08

Livros "Atlântico" 48, O Avante não quer publicar isto?

Henrique Raposo

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"Nazis = Soviéticos",

Atlântico n.º 29 (Agosto 2007)

 

[entretanto apareceu a edição portuguesa -  Edições 70]

 

Norman Davies (n.1939) faz parte de uma corrente de historiadores britânicos (John Darwin, Christopher Coker, Niall Ferguson e o amador Gavin Menzies) que se destaca por criticar a visão eurocêntrica da história. Atenção: não criticam o Ocidente (projecto político), mas sim o Eurocentrismo (hábito intelectual que coloca o espaço Euro-Atlântico no centro do mundo, como único factor de acção e mudança). Em Europe at War, Davies (Oxford) não apresenta uma teoria nova, nem oferece factos novos. Davies apenas reorganiza a hierarquia dos factos já conhecidos, dando destaque a acontecimentos convenientemente desprezados pelo eurocentrismo.

 

Qual foi o momento decisivo da II Guerra Mundial? A maioria dos ocidentais responde “Dia D”. Davies discorda: o momento mais importante da II Guerra foi a batalha de Kursk (a maior batalha de tanques da História) entre a Alemanha e a URSS. Os soviéticos, e não os aliados, foram o centro de gravidade do conflito. Não é uma questão de valoração normativa. É uma questão de facto: Moscovo teve o papel principal na derrota de Hitler. Este facto pode incomodar a nossa sensibilidade, mas não deixa de ser verdade. Europe at War é, portanto, um violento ataque ao paroquialismo da visão ocidental/eurocêntrica (western view). E este desafio estende-se a outra questão. Davies mete o dedo, ou melhor, o punho inteiro numa ferida ainda aberta: a URSS foi um regime tão assassino e agressor como a Alemanha Nazi.

À semelhança de Tony Judt, Davies relembra que Europa não é sinónimo de Europa Ocidental; França, Reino Unido e Alemanha não podem resumir a História europeia. Neste sentido, Davies aponta para uma evidência ainda desconhecida na Europa ocidental: 1945 não significou libertação para metade da Europa. Para os europeus de leste, 1945 representou o início de meio século de subjugação colonial às mãos dos soviéticos. Além de salientar este facto que ainda incomoda as boas consciências, Davies recorda um facto histórico enterrado, e bem enterrado, no baú das coisas incómodas, a saber: a Polónia foi invadida pela Alemanha mas também pela URSS; Alemanha e URSS invadiram (ao mesmo tempo, em conluio político e em articulação militar) a Polónia em Setembro de 1939. Mais: a segunda agressão da Guerra deu-se em Novembro de 1939 quando a URSS atacou a Finlândia. Mais ainda: enquanto a Alemanha atacava a França, a URSS anexou os estados bálticos. A URSS também foi agressora; URSS também iniciou a II Guerra.

Como se pode ver, este livro não é recomendável a esquerdistas com problemas cardíacos.

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