1. Quando lemos qualquer coisa sobre a Índia, aquilo que mais choca não é a pobreza (que é reduzida todos os anos; digam a um indiano que a globalização é "predatória" e arriscam-se a levar um par de estalos), não é a falta de infraestruturas, não é a corrupção. O que choca é a capacidade de trabalho. Os laboratórios de software trabalham 24 sobre 24 horas, por exemplo.
2. Neste livro, Rampini conta uma estória relevadora. Uma empresa italiana abriu uma sucursal na Índia. Um jovem indiano, empregado da empresa italiana, foi estagiar na casa mãe. Resultado: o rapaz ficou espantado com a lentidão e falta de ética de trabalho dos colegas italianos. "Eles saem logo à pressa quando o relógio dá 17h; nós na Índia não temos horários de trabalho". Na Índia, há objectivos e não horários de trabalho. Na Europa, trabalha-se para preencher as horas do expediente. Na Índia, trabalha-se para cumprir objectivos. Na Índia, os trabalhares sindicalizados (10%) são tratados com desprezo pelos outros. Estes 10% (ainda protegidos pelas velhas leis da
Licence Raj fabiana) são vistos como uma "aristocracia laboral". Eu também conheço um país onde existe uma aristocracia laboral. Aristocracia que amanhã vai desfilar em Lisboa.
Preparem-se para mais OPAs de indianos sobre empresas europeias. A Arcelor e a Corus são só o início. Não vale a pena fazer birra, não vale a pena fazer proteccionismo saloio. A realidade não foge só porque os europeus fazem beicinho.
3. Este é um dos poucos livros onde se vê um europeu atento ao mundo.
Mundo: aquela coisa que vai além de Bush, Chavéz e do catarro de Castro (já repararam que a nossa TV reduz o mundo a estes três tipos?). Mais um grande livro da colecção
sociedade global da
Presença. Quando comecei a estudar, arranjar um livro sobre política internacional em Portugal era tão difícil como encontrar um marxista sério. Agora já não é assim. As editoras despertaram. A
Presença, por exemplo, tem feito um esforço de edição interessante ao nível do debate internacional. Já editou
Tim Flannery (essencial para o tal debate ambiental),
Robert Cooper e o "
Freakonomics".