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Recentemente, em conversa com Dana Allin, editor da enorme Survival, ficou para mim mais que evidente o desenho das relações internacionais contemporâneas. O quadro está para ficar, meus amigos. Allin reconheceu uma certa “ignorância” nos círculos políticos e académicos norte-americanos sobre a “Europa”. Quando falamos de “Europa”, diz-me Allin, “falamos de uma concepção algo abstracta e que temos dificuldades em reconhecer”. A UE é, para Washington, um parceiro económico. O parceiro político continua a ser o Estado soberano, os diversos que compõem a União.
Esta visão realista do mundo choca com a sensibilidade de muitos “europeístas”. A realidade é dura, por vezes: muitos gostavam de ser mais importantes no mundo do que são, de voltar às glórias do passado, um complexo pós-imperial que não mata mas mói.
Só que o mundo é bem mais complexo do que estas birras europeias. O mundo, tal como os EUA o querem moldar – legitimamente, acrescente-se – é multipolar. Formado por potências regionais aliadas da América. Ao contrário da intelligensia indígena, a partilha de poder no sistema foi a grande marca dos EUA desde 1945 (ONU, NATO, FMI, Banco Mundial, OMC, UE). Por outras palavras, nunca tanto poder concentrado numa só potência deu origem a tantas organizações internacionais, a tanta repartição de poder. Não serão as organizações perfeitas, mas são as que deram a grande parte do mundo períodos de maior estabilidade.
Ora, este concerto global de potências aliadas (não confundir com “amigas”), traçado após o 11 de Setembro, confronta a UE com a sua génese: um conjunto de Estados soberanos que, por vontade própria, decidiram ir partilhando aspectos da sua soberania. Repito: um conjunto de Estados soberanos.
Matar o Estado soberano é, simultaneamente, acabar com a União e remeter para um canto a relevância dos europeus no concerto de potências (Estados soberanos) global que Washington tem vindo a promover.
Eu sei que a liderança do PSD e a crise no CDS, o caso Charrua e as crianças contratadas como figurantes são demasiado importantes para perdermos tempo com estes assuntos. Mas eu já há muito que tracei as minhas prioridades.
Prosa antiga, publicada na primeira Atlântico do Paulo Pinto Mascarenhas, a n.11, Fevereiro 2006. Porquê relembrar agora? Porque me apetece, e porque tenho inveja desta gente que tem férias de 4 meses, ou assim.
Junkie da fotocópia