Porquê só agora?
A. Delgado, A. Telles, e N. Bettencourt Mendes, Luís de Freitas Branco, Caminho/TNSC, Lisboa, 2007, 504 pp.
por Francisco Sassetti
«Seja qual for o ângulo de observação, Luís de Freitas Branco domina o século XX português com a estatura de um colosso, de importância comparável, no âmbito da música, a um Fernando Pessoa». É desta forma que Alexandre Delgado introduz o leitor à viagem que esta obra nos propõe fazer, através da vida e da obra do compositor Luís de Freitas Branco (1890-1955), um dos mais importantes compositores portugueses, que foi, nas palavras de Delgado, «responsável pela abertura da música portuguesa à modernidade».
Não é habitual, em Portugal, encontrar livros publicados sobre artistas nacionais, de forma que toda a excepção a esta regra, por mais pequena que seja, transforma-se num acontecimento digno de realçar. Neste caso, não se trata de um pequeno acontecimento, antes pelo contrário, ou não estivéssemos nós a falar do primeiro livro dedicado ao compositor, e não fosse este um estudo detalhado sobre os mais diversos aspectos da sua vida e obra, ilustrado com variadíssimos documentos inéditos – desde cartas e partituras, a fotografias e artigos. Dividido em três partes (Esboço Biográfico, Obra Musical 1904-1923, e Obra Musical 1924-1955; cada uma da autoria de um dos três autores), o livro aparece na sequência do Festival Luís de Freitas Branco que, em 2005 e 2006, assinalou os cinquenta anos da sua morte.
Além de Alexandre Delgado, os outros autores são Ana Telles e Nuno Bettencourt Mendes, dois doutorandos em universidades estrangeiras (Paris e Londres, respectivamente), que nas suas teses estão a explorar a obra deste compositor, sinal de que o nome de Luís de Freitas Branco está, de novo, a ultrapassar as fronteiras portuguesas (de novo, porque assim aconteceu quando o compositor era vivo). Por cá, este livro promete rapidamente tornar-se numa leitura obrigatória para quem estude ou se interesse por música. Apresentado ao público por Rui Vieira Nery no Teatro de São Carlos (que apoia a publicação) no dia 21 de Maio, o livro conta ainda com um prefácio de Paolo Pinamonti (ex-director do teatro).
Resta-nos fazer uma pergunta: porquê só agora?
[Publicado na Revista Atlântico]