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blogue atlântico

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01
Jun08

Reler: O último líder do PSD?

Atlântico

 

O actual concurso para a liderança do PSD não é fácil de seguir. É uma história de caciques de província e velhas disputas de família, a lembrar a política oligárquica do século XIX. Os candidatos, no entanto, fazem por cumprir o papel, tentando distinguir-se uns dos outros. Santana diz-se o mais “diferente” de Sócrates. Ferreira Leite declara-se a mais “credível”. Passos Coelho mostra-se como uma “cara nova”. Mas há mesmo diferenças, credibilidade e novidade?

 

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Peguemos, para começar, em Santana e Ferreira Leite, que se tratam a si próprios como os pólos principais da disputa. É óbvio que se detestam mutuamente. Mas para além deste ódio recíproco, têm muito mais em comum. Ambos, por exemplo, descobriram vida para além do défice. Santana preocupa-se sobretudo com o “crescimento”, e Ferreira Leite com as “questões sociais”. Alguém lhes ensinou, como já tinha ensinado a Menezes, que Sócrates deve ser ultrapassado “pela esquerda”. Ninguém, por isso, os ouve falar demasiado de “reformas”, como a da administração pública. Significativamente, tanto Santana como Ferreira Leite reproduzem assim o “silêncio” e o “esquerdismo” eleitoralistas que os comentadores detectaram há uns tempos no actual governo. O que os distingue então de Sócrates? Em entrevista à SIC, Ferreira Leite discorreu sobre questões de estilo. Sócrates não “dialoga” e causa “mal estar”. Ela vai “dialogar” e reconciliar toda a gente. Onde é que já ouvimos isto? Exactamente: em 1994-1995, quando Guterres fazia oposição a Cavaco Silva. Com Sócrates, o PS arranjou um “Cavaco”; o PSD ameaça agora arranjar um “Guterres".

 

Percebe-se que Santana e Ferreira Leite apostam quase tudo na revisão do crescimento económico para baixo e da inflação para cima. Mas se a economia não arrancar, vai o país devolver o seu destino aos mesmos que, em três anos, entre 2002 e 2005, não conseguiram equilibrar o orçamento, não fizeram as “reformas”, e acabaram pateticamente à mercê de Sampaio? Os mesmos a quem já puniu nas eleições europeias de 2004 e nas legislativas de 2005?

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De resto, os dois candidatos exibem o tradicional obscurantismo ideológico do PSD, expressando-se numa língua estranha, em que as palavras não têm os significados correntes e as coisas não têm os nomes habituais. Na SIC, Ferreira Leite definiu-se como “social-democrata”. Ao Correio da Manhã, explicou que “não sou com certeza liberal, também não sou populista”. Com certeza? É que, nessa mesma ocasião, eis como descreveu a linha geral do partido: “O PSD defende um Estado pequeno, mais reduzido, que apenas tem como função incentivar e especialmente criar as condições para que a iniciativa privada funcione, se desenvolva e se liberte, que dê espaço à sociedade civil para progredir, e que incida a sua acção para satisfazer necessidades dos menos favorecidos”. Onde é que, no mundo, se chama a isto “social democracia”? A classe dirigente do PSD não parece compreender que esta relutância para se definir claramente, nos termos do debate político de hoje, a faz parecer uma oligarquia bizantina, demasiado remota ou manhosa.

 

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A primeira consequência de Santana Lopes e de Ferreira Leite foi a inesperada “obamização” de Passos Coelho. Sim, Passos vem do PSD, com os decorrentes caciques, limitações ideológicas (ainda não descobriu, aos quarenta e tal anos, se é de direita ou de esquerda) e tendências tecnocráticas (mal lhe falam de um problema, começa logo a debitar “medidas”). Mas fala de “reformas” e, pelo menos, chama “liberalismo” ao “liberalismo”. É provável que tenha ainda outras qualidades. Acima de todas, porém, tem neste momento esta: não é Santana nem Ferreira Leite. Ao contrário deles, não deixará Sócrates reduzir o debate às contas do passado. E sobretudo, não parece tão afectado como os outros pelos rancores e incompatibilidades que neste momento separam a classe dirigente do PSD. Isso quer dizer que poderá dirigir o partido com menos de 50 % dos votos: Santana e Ferreira Leite, com um resultado inferior, terão logo de iniciar a contagem decrescente para a “guerrilha interna” ou mesmo para a cisão. Talvez Passos Coelho seja o único dos candidatos em condições de não ser o último líder do PSD. Ou talvez já ninguém possa evitar essa sorte.

 



O PSD importa ao país na medida em que for uma alternativa ao presente governo. Que lhe acontecerá, se continuar incapaz para a função? Em 2009, por coincidências de calendário eleitoral, um PSD irrelevante arrisca-se a ser castigado não apenas na assembleia da república, mas onde mais dói: nas autarquias. Basta correr as listas de apoiantes dos actuais candidatos à presidência do partido para constatar que o PSD é hoje pouco mais do que um grémio de presidentes de câmara e juntas de freguesia. São eles as célebres “bases”. Para onde irão, sem a pastagem de municípios e freguesias? E para onde irá o PSD, sem essas “bases”?

 


[Rui Ramos]

 

 

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Crónica do Público de 21 de Maio

Editada para o Blogue Atlântico

01
Jun08

Agora que já está

Maria João Marques

 

Cheguei à conclusão nestas directas do PSD que sou uma troca-tintas, ser opinativo sem espinha dorsal, insusceptível de escrever em blogue respeitável: é que não dedicava qualquer tipo de ódio moderado nem repulsa visceral a nenhum dos front runners das directas. Teria sido preferível que Pedro Passos Coelho ganhasse as directas. Já se percebeu que qualquer agenda liberal terá que passar pelo PSD para ter alguma relevância, e o certo é que PPC pôs, pela primeira vez, a malta fora da blogosfera liberal a discutir a retirada do Estado do capital de empresas públicas como a CGD (e respectivos tentáculos em sectores de importância estratégica como, por exemplo, os sumos), ou a necessidade de um Estado pequeno que faça bem o que lhe compete e deixe as empresas criar riqueza, ou flexibilização da legislação laboral. E sim, depois do slogan guterrista ainda em vigor “não se preocupem, não se esforcem, que o Estado é bonzinho e toma conta de vós” que atesta a crença dos socialistas e socializantes diversos que os indivíduos devem ser deixados com o mínimo de liberdade possível, que os queridos governantes e legisladores sabem muito melhor o que é bom para a felicidade e bem-estar de cada um, é essencial que se dê voz num partido como o PSD às ideias que respeitem as escolhas individuais, que não imponham um Estado predador e consumidor de metade dos nossos recursos, prestador de serviços de qualidade sofrível, que diga “nós sabemos que vocês sabem tomar conta da vossa vida”. Um dia.
 
Manuela Ferreira Leite, no entanto, não me incomoda. Não percebeu ainda que se esperarmos que a despesa pública desça para baixarmos os impostos, estes nunca sairão dos actuais níveis. Como disse uma vez César das Neves, os impostos são como um gás, quanto mais espaço lhe dermos mais se expande. Mas enquanto Ministra das Finanças, MFL baixou o IRC, reformou os impostos sobre o património (acabou com aquele imposto que Guterres disse ser estúpido e que ia acabar, mas não acabou até MFL), os trabalhadores do Estado contratados a termo não tiveram contratos renovados, avisou às empresas que o tempo em que contavam com o Estado para sobreviver terminara, recorreu a receitas extraordinárias para cumprir as metas das contas públicas. O seu único pecado foi aumentar o IVA de 17% para 19%. Dizer que isto é equivalente à imaginação hiper-activa de Sócrates no que toca a subir qualquer imposto e taxinha, parece-me algo desfocado. MFL tem algumas vantagens, além das boas propostas que apresente: não poderá ser acusada por Sócrates da tal “obsessão pelo défice” (pelo menos sem provocar gargalhadas); a falta de educação deplorável de Sócrates para com os seus opositores políticos fará ricochete se for dirigida a uma senhora; provavelmente terá a simpatia do eleitorado feminino (e nós somos umas tantas); por fim, nunca serei eu a desdenhar a importância das qualidades do carácter dos políticos e, não, credibilidade e competência não são deprezíveis num Primeiro-Ministro (como se vê quando faltam, como no caso presente).

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