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blogue atlântico

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30
Set08

Isto não é socialismo, nem sequer keynesianismo, porra!

Henrique Raposo

Já se percebeu que o tradicional (e irracional) debate esquerda-direita já atacou a avaliação do plano Bernanke-Paulson. Meus caros, o plano não é socialismo, nem keynesianismo. É economia de mercado no seu melhor, sofisitcada e descomplexada. O plano é impopular porque os banqueiros são e sempre serão impopulares, e ainda mais os "especuladores". Os republicanos que votaram contra não estão a defender o mercado, estão a defender o voto dos seus votantes populares (Not that there's anything wrong with that, como diria o Seinfeld).

Repito isto porque se uma mentira dita muitas vezes vira verdade, espera-se que o mesmo possa acontecer a uma verdade.

 

Pedro Lains

 

Pedro Lains, historiador do ICS, tem feito os melhores textos em Portugal sobre esta crise. Isto também é o trabalho do cientista social: entrar dentro do debate «mainstream» e dar cabo dos mitos que se criam, como diria o mestre Aron.

30
Set08

Jogar por antecipação

Paulo Pinto Mascarenhas

Entretanto, o Congresso aprovou, embora com forte contestação republicana [N.R.: Este texto foi escrito segunda-feira, quando tudo indicava uma aprovação e não o chumbo que ontem se verificou.], o plano de emergência proposto por Bush. Aos republicanos, que sempre pregaram a auto-regulação do mercado, custa-lhes engolir uma intervenção salvadora (?) do Estado. Neste caso, com mais vergonha e sentido de coerência do que Bush.

 

Mário Soares, no DN

 

-

 

Como se previa [o texto também foi escrito na segunda-feira quando tudo indicava uma aprovação e não o chumbo que ontem se verificou] alguma esquerda já rejubilava com a aprovação do Plano Paulson, uma verdadeira vingança do socialismo. Mas o dr. Soares teve pressa e tropeçou, porque o plano não foi aprovado, contando também com mais de 40% de votos contra dos democratas na Câmara dos Representantes.

30
Set08

As Casas

Henrique Raposo

Quem tem estas casas gratuitas (é isso que elas são) é gente poderosa. Há assessores dispersos por várias forças políticas e a vários níveis do Estado, capazes de com uma palavra no momento certo construir ou destruir carreiras. Há jornalistas que com palavras adequadas favoreceram ou omitiram situações de gravidade porque isso era (é) parte da renda cobrada nos apartamentos da Quinta do Lambert e noutros lados. O silêncio foi quebrado agora que os media se multiplicaram e não é possível esconder por mais vinte anos a infâmia das sinecuras.

 

Mário Crespo

30
Set08

Em defesa do capitalismo

Atlântico

O Presidente francês afirmou que "a crise financeira não é a crise do capitalismo. É a crise de um sistema que se afastou dos valores fundamentais do capitalismo, que traiu o espírito do capitalismo". Avisou ainda: "o anticapitalismo não oferece qualquer solução à crise actual. Regressar ao colectivismo, que tantos desastres provocou no passado, seria um erro histórico". Esta é a mensagem certa. Mais do que nunca, é necessário defender o capitalismo dos ataques populistas e oportunistas. Atacar o capitalismo por causa da crise financeira é como atacar a democracia por causa de partidos extremistas serem eleitos para o parlamento. Todos os bons sistemas têm problemas.

 

O capitalismo é muito mais do que economia. Sem capitalismo, não há liberdade individual, não há pluralismo político e não há sociedades prósperas. Basta olhar para a história do século XX, para ver o resultado de todas as experiências anti-capitalistas. Desde a União Soviética à Alemanha Nazi, passando pela Espanha de Franco e pelo Estado Novo. Muito mais grave do que a crise financeira seria a falta de memória histórica.

 

João Marques de Almeida, no Diário Económico

30
Set08

Cepticismo

Henrique Raposo

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1. Richard Epstein era um libertário. Mas percebeu que estava errado. Escreveu este livro para se assumir como liberal clássico.

 

2. Os libertários passam a vida a falar de Liberdade. Mas estou cada vez mais convencido que esta Liberdade (sempre com caixa alta) é apenas uma palavra e não um hábito mental entre libertários. Para existirem, as liberdades (as concretas; não a Liberdade) precisam de uma coisa: um ambiente intelectual  marcado por algum cepticismo (como defende Epstein ao longo do livro). Só com cepticismo (i.e., será que tenho razão? será que aquele idiota que discorda de mim é mesmo idiota? Será que o idiota sou eu?) é que pode haver liberdade e respeito pelo pluralismo. Ora, o que se vê nas hostes libertárias é a total ausência de cepticismo e uma cegueira ideológica pura e dura.

30
Set08

Claustrofobia televisiva

Paulo Pinto Mascarenhas

 

Bastaria ler a notícia de um comentário do primeiro-ministro aos jornalistas durante a viagem à Venezuela, em que comparava o programa de televisão de Hugo Chávez com as notas de Marcelo Rebelo de Sousa na RTP, para se perceber que poderiam vir aí novos problemas para o comentador social-democrata. Regista-se o estratégico aproveitamento de um comunicado da ERC pela direcção de informação da televisão pública para lembrar a redução do tempo do programa de Marcelo. Ou, dito de outro modo, como foi útil para o Governo este novo comunicado da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Tem razão o professor para temer que acabem com o programa?

30
Set08

Medidas a tomar (2)

Vasco Campilho

Se é certo que Portugal não se pode dar ao luxo de cometer mais erros de política económica, a verdade é que face à crise internacional, a inacção não é uma opção viável. A prioridade da política económica neste momento deve ser manter, tanto quanto possível, a liquidez das famílias e das empresas de modo a prevenir rupturas graves num contexto de crise de crédito.  Intervenções de curto prazo, com alvos bem especificados, parecem-me não apenas o modo mais eficiente, mas também o mais eficaz de cumprir este objectivo. A questão está em definir os alvos e desenhar as intervenções.

 

Eu identifico três alvos principais: as empresas, o sistema financeiro, e as famílias. Para prevenir a asfixia financeira das empresas, em especial das PME, já falei aqui da necessidade de resolver o quanto antes os pagamentos atrasados a fornecedores pela Administração Pública.  Todas as outras medidas que se possam imaginar são supletivas desta medida de fundo, que ainda por cima é da mais elementar justiça.  Para estabilizar o sistema financeiro, é ver o que tem sido feito à nossa volta. Não vale a pena reinventar a roda: o que é preciso é estar pronto se e quando for necessário intervir.

 

Para acudir  às famílias esmagadas pela subida das taxas no crédito à habitação, será necessário mais engenho. Crédito de imposto especial para os mais pressionados? Pode chegar tarde. Um subsídio? Cria moral hazard, e pode ter efeitos de redistribuição regressiva. Talvez o mecanismo de apoio mais virtuoso fosse uma retoma parcial da dívida*, em que o Estado adquiriria uma percentagem do imóvel hipotecado no valor da dívida retomada afim de reduzir a taxa de esforço da família socorrida.

 

And here's the funny part: aqueles que tivessem lesado o Estado ao fazer escrituras abaixo do valor real do imóvel acabariam por o ressarcir ao recorrer a este mecanismo, já que a percentagem do imóvel adquirida pelo Estado seria aumentada face ao valor real justamente na medida do rombo fiscal anterior.

* Estou aberto a que me convençam que isto não funciona(ria), ou que há alternativas melhores. Caixa de comentários sff.
30
Set08

O abjeto acordo ortográfico

brunogarschagen

 

Como é?

29/09/08 - 15h46 - Atualizado em 29/09/08 - 15h51


Lula sanciona reforma ortográfica

 

Novas regras passam a valer a partir de 2009. Confira o que muda na língua escrita.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta segunda-feira (29) o decreto que estabelece a reforma ortográfica. As mudanças na escrita começam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009. A solenidade ocorreu na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.

 

A reforma da ortografia pretende unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.

 

De 2009 até 31 de dezembro de 2012, ou seja, durante quatro anos, o país terá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita – a atual e a nova.

 

Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia.

 

O que muda na escrita

 

De acordo com especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. As regras que mudam são as seguintes:

 

Novas letras – há a incorporação do “k”, do “w” e do “y” ao alfabeto. O número de letras passa de 23 para 26.

 

Trema – deixa de existir. A grafia passa a ser: linguiça e frequente.

 

Acentos diferenciais – serão suprimidos acentos como o de “pára”, do verbo parar.

 

Acentos agudos de ditongos – somem os acentos de palavras como “idéia”, que vira “ideia”.

 

Acento circunflexo – somem os acentos de “vôo” ou de “crêem”.

 

Hífen – palavras começadas por “r” ou “s” não levarão mais hífen, como em anti-semita (ficará “antissemita”) ou em contra-regra (ficará contrarregra).

 

Pontos em aberto

O acordo não define todos os usos de hífens, por exemplo. Assim, palavras como pé-de-cabra, ainda não têm o rumo certo e dependem da elaboração de um vocabulário pela Academia Brasileira de Letras e pelos órgãos dos outros sete países signatários.

 

História do acordo

O acordo ortográfico da língua portuguesa foi assinado em Lisboa em 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, o que não se concretizou. Em 1998, foi assinado em Cabo Verde um protocolo que modificava a data de vigência, que foi ratificado em 2002.

 

Sem que as mudanças se aplicassem, em 2004 foi assinado um novo protocolo modificativo, que previa a adesão do Timor Leste, independente desde 2002. Este novo protocolo previa que as mudanças na ortografia entrariam em vigor a partir da assinatura de três países.

 

O acordo ortográfico já foi ratificado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal, e, portanto, pode entrar em vigor. O processo de implementação em cada país pode variar.

 

Em Portugal, o acordo foi aprovado em maio e a nova ortografia deverá ser obrigatória dentro de seis anos.

Em muitos assuntos que desconheço tendo a partilhar a opinião de gente que admiro e é versado no tema. Em outros, mesmo que eu não seja um profundo conhecedor do objeto em discussão, o entorno do debate permite uma avaliação mais ampla. Se me pedirem uma opinião sobre questões filológicas serei obrigado a recusar polidamente o desafio; se me vejo defrontado com uma decisão sobre minha língua materna o debate pode ser conduzido com instrumentos de análise muito mais amplos do que meros aspectos técnicos. O famigerado acordo ortográfico viola pela arbitrariedade; incomoda pela pretensão; irrita pelo descabimento.

 

Quais são, afinal, os argumentos favoráveis ao acordo? “Unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal”. Para quê? Para facilitar a circulação de conhecimento? Para permitir que indivíduos dos países luso possam se comunicar pela via escrita da mesma forma? Há vários outros circulando por aí, um dos quais fazer com que o português se torne língua oficial de organização internacionais como a ONU.

 

Algumas questões se põem: um brasileiro alfabetizado não consegue ler um texto escrito em Portugal? Um português alfabetizado não consegue ler os livros produzidos no Brasil? Um diplomata brasileiro não consegue entender seu colega português? Percebam que transfiro a discussão do âmbito técnico para o da responsabilização individual. Se os brasileiros e portugueses que sabem ler não conseguem ler uns aos outros o problema está na ortografia? Alguém pode perguntar: “mas o acordo não se refere mais à elaboração de textos do que propriamente sua leitura?” Uma coisa, evidentemente, depende da outra.

 

Dar-lhes-ei um exemplo de uma diferença de grafia: fato (ação ou coisa que se considera feita, ocorrida ou em processo de realização) em Portugal diz-se e escreve-se facto. Se algum português disser fato está se referindo ao nosso brasileiro terno (traje masculino, composto de paletó, calças e, ocasionalmente, colete, do mesmo tecido e cor). Ma se forem ao dicionário de português do Brasil verão que fato (sem a letra C) também tem o mesmo significado usado em Portugal. E que terno também pode significar sentimentos afetuosos, grupo, numeroso ou não, de pessoas (regionalismo de Minas Gerais) e conjunto das juntas de bois da carreta (regionalismo do Sul do Brasil).

 

O que se quer é uma abjeta padronização de uma língua de forma autoritária; o que se faz de forma débil é tirar das palavras o maravilhoso patrimônio de significados. A mensagem que chega até às pessoas é: “sejam burras que nós damos um jeito”. E completo, furtando as palavras do Vasco Graça Moura, também acho que “a aplicação do Acordo não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional“. 

 

Num texto irretocável na Folha de S. Paulo (só assinantes) de domingo João Pereira Coutinho é certeiro:

A língua é produto de uma história; e não foi apenas Portugal e o Brasil que tiveram a sua história, apresentando variações fonéticas, lexicais ou sintácticas; a África, Macau, Timor e Goa, que os sábios do acordo ignoram nas suas maquinações racionalistas, também têm direito a usar e a abusar da língua. Quem disse que o português do Brasil é superior, ou inferior, ao português falado e escrito em Luanda, Maputo ou Dili?

 

Meu princípio filosófico: a pluralidade é um valor que deve ser estudado e respeitado. Não me incomoda que os brasileiros escrevam “ator” e “ceticismo” sem usarem o “c” ou o “p” dos lusos. Quando leio tais palavras, sei a origem delas; sinto o sabor tropical em que foram forjadas.

 

Mas exijo respeito. Exijo que respeitem o “actor” português e o “cepticismo” luso com o “c” e o “p” que o Brasil elimina.

Quando as palavras são esvaziadas e a língua passa a ser tratada como uma peça de automóvel corremos o risco de pedir respeito e isso não significar absolutamente nada.

 

PS: Lula assinando um acordo ortográfico é a nota final dessa tragédia transatlântica.

 

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