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08
Out08

Tempos Demasiado Conturbados para uma Ofensiva Ideológica

Bruno Reis

Interessantemente Tiago Ribeiro apela à ofensiva ideológica do centro esquerda (em blogue muito bem vindo). Eu vejo riscos nessa ambição. Ofensiva em que sentido?

 

Ofensiva no sentido de afirmar que é desta é que o Estado vai começar a intervir no mercado? Nunca houve mercados sem intervenção do Estado. Claro que o Tiago diz isso. Até os neo-liberais mais ortodoxos admitem isso. Sempre foram as autoridades públicas que marcaram o dia do mercado, deram garantias de segurança aos mercadores, estabeleceram pesos e medidas, emitiram moeda, fiscalizaram abusos, e cobram taxas pelos serviços prestados. 

 
O que me parece importante é sublinhar, com calma (que anda toda a gente muito nervoso) que realmente o Estado tem um papel importante na economia. Lembrar que há um ano atrás os europeus por via da presidência alemã da UE tentaram convencer os EUA a conter a bolha. Certo. 
 
Mas a questão do nível de intervenção e de regulação estatal dos mercados sempre foi e sempre será complexa (e é assim mesmo nas origens desta crise, de que o Estado não está completamente ausente). Há várias respostas possíveis e funcionais (as americanas diferentes nas vantagens e desvantagens das europeias). Há necessidade de ajustes periódicos às circunstâncias. Tanto quanto descontrolos especulativos, há que temer intervenções estatais excessivas e custosas quer em dinheiro gasto quer em dinamismo perdido.
 
Ora a ideologia política geralmente é má conselheira na complicada a tarefa de encontrar respostas pragmáticas às necessidades económicas do momento. O Tiago de alguma forma reconhece isso. Mas não vejo então o espaço e a oportunidade para uma ofensiva ideológica. Os tempos são demasiado arriscados para apostar em polarizações políticas. 
 
O risco parece-me neste momento ser até de uma viragem excessiva no sentido do anti-capitalismo mais básico. Até a direita que precisa de ganhar votos se deixa cair nessa tentação (veja-se McCain).
 
O centro esquerda deve cuidar de não se deixar engolir pelo discurso de populismo anti-capitalista. Aí a extrema esquerda terá sempre vantagem retórica sem ter de gerir os custos e consequências no mundo real.
 
A esquerda liberal deve manter-se fiel ao seu objectivo do máximo de prosperidade para o maior número.
 
Ciente de que para as pessoas comuns a doutrina económica que realmente as interessa é a de Deng Xiao Ping: «não interessa a cor do gato desde que apanhe ratos.»
 
Ciente de que é sempre bom ter presente a pergunta crucial do ilustre economista e liberal de esquerda John M. Keynes: «When the facts change, I change my mind. What do you do?»

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