Trop d'efficience tue l'efficacité
Um dos meus primeiros trabalhos de estudante universitário, no Outono de 1995, foi elaborar uma ficha de leitura do clássico "Capitalisme contre Capitalisme". Nessa obra de 1991, Michel Albert descrevia dois modelos de capitalismo: um, baseado no financiamento das empresas pelos mercados de capitais, orientado para o lucro a curto prazo; outro, baseado no financiamento das empresas pelo sistema bancário, orientado para os ganhos a longo prazo. O primeiro tinha o seu epicentro nas praças de Londres e Nova Iorque, o segundo tinha os seus campeões na Alemanha e no Japão.
Para Michel Albert, o modelo "renano" era intrinsecamente superior ao modelo "anglo-saxónico": o autor concluía deplorando que a França se estivesse a aproximar dos Estados-Unidos e não da Alemanha. Mais tarde, compreendi que as coisas não eram assim tão simples: o modelo renano, com a sua tendência à endogamia das elites industriais e financeiras, não tinha a capacidade de eliminar as ineficiências que se iam acumulando. Aliás, nos anos 90 nem o Japão nem a Alemanha apareciam como modelos a seguir do ponto de vista do crescimento económico. N'empêche: algo me fez regressar à memória o livrinho de Michel Albert. Porque se no elogio do capitalismo renano ele estava enganado, no aviso quanto às insuficiências do capitalismo anglo-saxónico ele acertou.
A glória do capitalismo nos últimos 20 anos foi o ataque a grande escala às ineficiências económicas. A reengenharia de processos, a qualidade total, o just-in-time, o zero-stock, o desmantelamento dos conglomerados, a recentragem das empresas no core business, a redução de níveis hierárquicos, o trabalho em rede: todas estas inovações tiveram como objectivo eliminar ineficiências. A mobilidade mundial dos capitais permitiu também uma alocação mais eficiente dos recursos ao nível planetário: donde as deslocalizações e os investimentos que alimentaram o crescimento dos tigres asiáticos e, mais tarde, dos BRIC. A busca da eficiência dos capitais investidos levou também o sector financeiro a alavancar-se fortemente. O crescimento com baixa inflação e crédito barato facilitou, de resto, a transição para uma economia fortemente alavancada.
Toda esta guerra às ineficiências foi conduzida sob a pressão dos mercados financeiros por resultados imediatos. Sem essa fortíssima pressão dos mercados financeiros, provavelmente não teria havido um progresso tão grande em termos de produtividade económica. Mas hoje parece claro que a busca de uma eficiência cada vez maior dos factores de produção se fez à custa da resiliência do sistema económico como um todo. Fica a questão: trop d'efficience tue l'efficacité?