Ler: o fardo do homem negro
Ser negro não lhe dá nenhuma vantagem política, intelectual ou moral. Mas o facto de o ser, pelo que significa para a sociedade americana, deu-lhe trunfos valiosos. E esse é um feito, não dele, mas dos Estados Unidos. Que outro país, da Europa, de África ou da Ásia será capaz de eleger presidente um membro de uma minoria étnica? Nesse facto reside talvez esta monumental coligação de simpatizantes através do mundo. Os que são minorias ou como tal são tratados, seja por razões religiosas, étnicas, sexuais ou nacionais, reconhecem-se facilmente nele. Muitos dos amigos da América vêem-se hoje ao lado dos europeus antiamericanos, que são multidão. Esquerda e direita, por esse mundo fora, preferem Obama. Estas coligações são pouco saudáveis. Mas permitem respirar, descomprimir e, espera-se, pensar. Assim como falar com todos. O que talvez seja a fundação de uma nova autoridade. Imprescindível por todas as razões e mais uma: a de poder contrariar o excesso de ilusões.
António Barreto, no Público