Os derrotados da história
Quando o comunismo caiu com estrondo no inicio da década de 90, a esmagadora maioria dos partidos comunistas quase desapareceram do mapa. A URSS deixou de existir, foram conhecidos, numa dimensão gigantesca, os crimes cometidos em nome da ideologia assassina, os fracassos das suas políticas económicas tornaram-se evidentes, e deixou de haver uma alternativa credível (se é que alguma vez o foi) à democracia liberal. Apesar de alguns grupos minúsculos de comunistas que continuaram a existir, a maior parte dos partidos radicais de esquerda converteram a sua mensagem, focalizando a sua acção política num ambientalismo fundamentalista, na defesa de políticas sociais “progressistas” e “assistencialistas”, e nos movimentos de anti-globalização. Já neste século, alcançaram um crescimento incrível, politicamente falando, assentando a sua pujança no anti-americanismo crescente das sociedades ocidentais. Foi neste contexto que grupos como o Bloco de Esquerda prosperaram. E o PC português foi mesmo o único que se aguentou assumindo a veia totalitária marxista-leninista e, por vezes, estalinista, conforme se observa no apoio fiel de Bernardino Soares à Coreia do Norte.
Nos últimos dias temos assistido a uma revigorada extrema-esquerda, até mesmo triunfal, a pronunciar o fim capitalismo e do liberalismo económico. Para esta esquerda, agora será a vez do marxismo determinar o funcionamento da economia e da sociedade, e até já organizam congressos para discutir Marx. Jerónimo Sousa já diz que será poder quando o povo português o desejar. Apesar de realçar a evolução que os comunistas fizeram nos últimos trinta anos, quando desejavam apenas chegar ao poder, marimbando-se para a vontade popular, não posso deixar de lamentar que um partido que dá vivas a Cuba e à Correia do Norte tenha o apoio de milhares de portugueses. Mas isso também faz parte da democracia que venero e respeito.
Mas não vejo grandes razões para preocupação. A França também chegou a ter quase 20% da população a votar na extrema-direita, e o país não capitulou perante o radicalismo. Se Portugal tiver esta votação nos partidos da extrema-esquerda, estou certo que os partidos moderados conseguirão dar uma resposta eficaz a este problema. Na grande crise do capitalismo do século XX, os povos voltaram-se para os extremos, com os resultados conhecidos. Mas acredito que será quase impossível a sociedade portuguesa, bem como a europeia, virar-se de forma esmagadora para este radicalismo político ultrapassado. A democracia liberal é a única forma viável de governo. Com mais ou menos intervenção do estado, mais à esquerda ou mais à direita, será num regime democrático e liberal que as sociedades irão enfrentar as dificuldades. Por muito que estes derrotados da história apregoem o fim do capitalismo.
Entretanto, sempre podemos ir lendo os blogues e opinion makers de extrema-esquerda, e sorrirmos perante a euforia do momento. Afinal, eles estavam certos! Viva o marxismo! Odete até ensaia A Internacional para cantar no dia em que o capitalismo morrer! Quem nunca teve o sentido da história nunca perceberá que foi ultrapassado por ela. Estamos em 2008, não em 1929.