Difamação
A difamação é uma arte incompreendida. David Jell praticava-a com altruísmo. As vítimas da sua pena eram escolhidas ao acaso. Não era movido por um desejo de vingança e não consta que, para além de existirem e de se terem cruzado com ele, as vítimas o tenham humilhado. O acaso, porém, pode ser outro nome para critérios só conhecidos pelo difamador. Numa terça-feira luminosa (sublinho que literariamente não é possível uma terça-feira ser luminosa) David Jell decidiu que as suas vítimas seriam:
a) mulheres que entrem no autocarro sem cumprimentar o motorista
b) mulheres que tirem um livro da mala
c) mulheres com um ataque de soluços
Novo dia, novas regras:
a) mulheres parecidas com Debra Winger circa 1982
b) mulheres de saltos altos
c) mulheres que me lembrem a minha mãe depois do banho
Agora o tribunal proíbe-o de andar com canetas em público, o que o obrigará a esconder as armas do crime em sítios improváveis como bolsos, um chapéu de palha ou sob a plumagem de um papagaio amestrado. É uma pena severa e que ameaça fazer jurisprudência. Está mesmo a pedir um comentário de Francisco Teixeira da Mota no Público.