Prometi no outro dia discordar do Miguel Morgado, e ainda que ninguém me tenha cobrado a promessa nem seja previsível que alguém o venha a fazer, eu sou um homem de palavra ou pelo menos faço por isso.
Há dias sintonizei o computador para o Rádio Clube a tempo de apanhar o fim do programa em que o Afonso Azevedo Neves e o Miguel Morgado comentavam a actualidade política do momento. Como não podia deixar de ser, o Estatuto dos Açores estava na ordem do dia. A propósito da votação na Assembleia da República, o Miguel comentou que a generalidade dos partidos políticos tinha sido captada pelos interesses dos seus ramos regionais, e rematou especulando sobre a possibilidade de a regionalização do Continente poder vir a desmultiplicar este tipo de problemas.
Parece-me que este é um argumento inválido contra a regionalizaação. Desde logo porque a regionalização do Continente, a acontecer, será administrativa, isto é, os órgãos políticos regionais serão de natureza autárquica e não autonómica. O que proporciona muito poucas ocasiões de interferir nos equilíbrios institucionais do regime.
Mas sobretudo, já hoje os partidos têm órgãos locais e distritais onde estão bem representadas as elites políticas locais. Ninguém duvida da sua importância na distribuição anual do PIDDAC e mesmo - horresco referens - dos fundos europeus*. Será caso para suprimir o poder local democrático que suporta essas elites?
Parece-me que é antes caso para Portugal aprender finalmente a viver de forma descomplexada com a representação política de interesses territoriais, tanto a nível local como a nível regional, tanto nas ilhas como no Continente.
______
* Esta soou mal. Aqui referia-me à importância das elites políticas locais na distribuição do PIDDAC e dos fundos europeus, não à dos órgãos locais e distritais dos partidos. Enquanto membro de um, sei bem que não é por ali que passam esse tipo de arbitragens...