Agora que está o país inteiro escandalizado com a indisciplina dos alunos de hoje, esses patifórios, é conveniente lembrar que não há inocentes perante a situação de indisciplina e falta de autoridade dos professores que se vive nas escolas públicas - faço a excepção para os casos de delinquência militante, que esses só acorrem nas escolas porque os delinquentes por acaso passam lá algum tempo e é lá que têm maior oportunidade de arranjar sarilhos; refiro-me apenas aos casos de indisciplina e violência que ocorrem com alunos que não fazem parte de gangues nem são, aparentemente, uns rufias. Alunos como aqueles que vimos no vídeo da agressão à professora do Carolina Michäelis, tanto a proprietária do telemóvel como os que assistiram a toda a cena rindo-se e só no fim (e dois ou três) tentaram separar a aluna da professora.
Eu garanto que não sofro do síndrome que desculpa qualquer crime pelas condições sócio-económicas do criminoso, a falta de abraços na infância ou as bebedeiras da mãe durante a gravidez; pelo contrário, acredito na responsabilidade individual. No entanto, os alunos não são os únicos culpados pela falta de autoridade dos professores; são apenas os primeiros e os mais imediatos.
Os professores tudo têm feito para perder a autoridade que um dia gozaram. Alguém se recorda de uma greve ou manifestação dos professores provocada pela indignação com programas, escolas mais ou menos devolutas, faltas de material para os alunos carenciados, cargas horárias de aulas desajustadas para os alunos, reformas irresponsáveis? Eu não. Só me lembro de protestos ocasionados por alterações no estatuto da carreira, obrigatoriedade de dar umas aulas de substituição, ordenados e, agora, a avaliação dos professores. Para defender estes seguramente importantes (para os professores) assuntos, os professores não se coíbem de fazer greve sempre que isso é mais gravoso, incluindo épocas de exames de 12º ano, aqueles que vão definir as notas com que os alunos serão avaliados na admissão às universidades. Um professor que brinca de forma tão indecorosa com um momento importante na vida de um aluno não merece um sopapo, é certo, mas também não merece respeito. E que autoridade tem? Nenhuma.
A culpa dos ministros e secretários de Estado que passaram pelo ME, cada um com a sua ideia original, utópica e, sobretudo, reformista (cada ME deve ter pelo menos uma reforma do ensino no curriculum) do que deve ser a escola pública – em primeiro lugar um local de acolhimento para todos, mesmo aqueles que não querem estudar e não se importam de impedir outros que gostavam de o fazer; um local igualitário (coisa muito importante), onde não haja grande incentivo à excelência, que a diferenciação amofina os maus alunos; um local onde se doutrinam as crianças e adolescentes para viverem nesta sociedade que se iniciou a 25 de Abril de 1974 – nem vale a pena referir. A Educação é o exemplo da necessidade de se retirar ao Estado as decisões sobre a vida das pessoas. Está demonstrado que políticos e burocratas não percebem nada da educação dos filhos dos outros; é urgente deixar as famílias decidirem onde estudam os filhos e permitir às escolas públicas a autonomia pedagógica que têm as escolas privadas. E, já agora, não tratem os professores como uma corja de preguiçosos, que os exemplos de cima tendem a ser seguidos em baixo.